quarta-feira, 12 de agosto de 2009

LIÇÃO 8: ENTENDENDO A DOUTRINA DA TRINDADE

I. INTRODUÇÃO:

Nas lições anteriores aprendemos sobre muitos dos atributos de Deus. Mas se compreendêssemos somente esses atributos, de modo nenhum compreenderíamos corretamente a Deus, pois não entenderíamos que Deus, no seu próprio ser, sempre existiu como mais de uma pessoa. De fato, Deus existe como três pessoas, porém é um só Deus.

É importante lembrar a doutrina da Trindade em relação com o estudo dos atributos de Deus. Quando concebemos a Deus como ser eterno, onipresente, onipotente e assim por diante, talvez tenhamos a tendência, em relação a esses atributos, de concebê-lo apenas como Deus Pai. Mas o ensinamento bíblico sobre a Trindade nos diz que todos os atributos de Deus valem para as três pessoas, pois cada uma delas é plenamente Deus. Assim, Deus Filho e o Espírito Santo são também eternos, oniscientes, onipresentes, onipotentes, infinitamente sábios, infinitamente santos, infinitamente amorosos, e assim por diante.

A doutrina da Trindade é uma das mais importantes da fé cristã. Estudar os ensinamentos bíblicos sobre a Trindade lança forte luz sobre a questão que está no âmago da nossa busca de Deus: como é Deus em si mesmo? Aqui aprenderemos que Deus, em si mesmo, existe nas pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo, sendo, porém um só Deus.

II. A REVELAÇÃO PARCIAL NO AT

A palavra Trindade não se encontra na Bíblia, embora a idéia representada pela palavra seja ensinada em muitos trechos. Trindade significa “tri-unidade” ou “três em unidade”. É usada para resumir o ensinamento bíblico de que Deus é três pessoas, porém um só Deus.

Às vezes se pensa que a doutrina da Trindade se encontra somente no NT e não no AT. Se Deus existe eternamente como três pessoas, seria surpreendente não encontrar indicações disso no AT. Embora a doutrina da Trindade não se ache explicitamente no AT, várias passagens dão a entender e até implicam que Deus existe como mais de uma pessoa, por exemplo, em Gn 1.26, Deus disse: “Façamos o homem a nossa imagem conforme a nossa semelhança”; em Gn 3.22: “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal”. A melhor explicação é que já nos primeiros capítulos de Gn temos uma indicação da pluralidade de pessoas no próprio Deus; essas passagens não apresentam quantas pessoas são, e nada temos que se aproxime da completa doutrina da Trindade, mas é uma implicação de que há mais de uma pessoa.

Além disso, em determinadas passagens uma pessoa é chamada de “Deus” ou “Senhor” e distinguida de outra pessoa também chamada de Deus. Em Sl 45. 6-7, o salmista diz: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; cetro de eqüidade é o cetro do teu reino. Amas a justiça e odeias a iniqüidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria, como a nenhum dos teus companheiros”. No NT, o autor de Hebreus cita esta passagem e a aplica a Cristo (Hb 1.8). Do mesmo modo, no Sl 110.1, Davi fala: “Disse o SENHOR ao meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés”. Em Mt 22.41-46, Jesus explica que Davi se refere a duas pessoas distintas como “Senhor”, mas quem é o Senhor de Davi senão o próprio Deus? E quem poderia dizer a Deus: “Assenta-te a minha direita”, exceto alguém que também seja plenamente Deus? Do ponto de vista do NT podemos parafrasear esse versículo da seguinte maneira: “Deus Pai disse a Deus Filho: Assenta-te à minha direita até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés”.

III. PROVAS DO NOVO TESTAMENTO

Quando começa o NT, entramos na história da vinda do Filho de Deus à terra. Era de se esperar que esse grande acontecimento se fizesse acompanhar de ensinamentos mais explícitos sobre a natureza trinitária de Deus, e de fato é isso que encontramos. Devido a escassez de tempo e espaço, abordaremos apenas algumas passagens em que as três pessoas aparecem juntas:

Quando do batismo de Jesus, “eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.16-17). Aqui, ao mesmo tempo, temos os três realizando três ações distintas, Deus Filho é batizado; Deus Pai fala de lá do céu; e o Espírito Santo desce, em forma de uma pomba, para pousar sobre Jesus.

Ao final de seu ministério terreno, Jesus diz aos discípulos que eles devem ir e fazer “discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19). Os próprios nomes “Pai e Filho”, baseados na família, a mais comum das instituições humanas, indica com muita força a distinção das pessoas da Trindade.

Quando nos damos conta de que os autores do NT geralmente usam o nome “Deus” (gr. Theos) para se referir ao Pai e nome “Senhor” (gr. Kyrios) para se referir ao Filho, fica claro que há outros termos que indicam a tri-unidade de Deus, como é o caso de I Co 12.4-6; II Co 13.13; Ef 4.4-6; I Pe 1.2; Jd 1.21.

IV. QUAIS AS DISTINÇÕES ENTRE O PAI, O FILHO E O ESPÍRITO?

Em certo sentido a doutrina da Trindade é um mistério que jamais seremos capazes de entender plenamente. Todavia, podemos compreender parte de sua verdade resumindo o ensinamento bíblico em três declarações:

1º. Deus é três pessoas; 2º. Cada pessoa é plenamente Deus; 3º. Há um só Deus.

Se dissermos que cada membro da Trindade é plenamente Deus, e que cada pessoa participa plenamente de todos os atributos divinos, será que há, afinal, alguma diferença entre as pessoas da Trindade? Não podemos dizer, por exemplo, que o Pai é mais poderoso ou mais sábio que o Filho, ou que o Pai e o Filho são mais sábios do que o Espírito, ou que o Pai já existia antes do Filho e do Espírito, pois ao dizer qualquer uma dessas coisas seria negar a divindade de algum dos membros da Trindade. Mas, então, qual é a diferença, quais as distinções entre as três pessoas da Trindade?

Quando as Escrituras abordam o modo como Deus se relaciona com o mundo, tanto na criação quanto na redenção, afirmam que as pessoas da Trindade tem funções ou atividades primordiais diferentes. Isso é chamado de “economia da Trindade”, sendo o termo economia usado no sentido “ordenamento de atividades”. A “economia da Trindade” trata das diferentes formas como as três pessoas agem no seu relacionamento com o mundo e umas com as outras.

Percebemos essas diferentes funções na obra da criação. Deus Pai proferiu as palavras criadoras para gerar o universo, mas foi o Filho, a eterna Palavra de Deus, quem executou os decretos da criação. “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3). Além disso, “nele foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl 1.16). O Espírito Santo também estava ativo, de um modo diferente, pois “pairava” ou “movia-se” por sobre a superfície das águas (Gn 1.2), aparentemente sustentando e manifestando a presença imediata de Deus na sua criação (Sl 33.6), onde o termo traduzido por “sopro” devesse talvez ser vertido como “Espírito”;( Sl 139.7).

Na obra da redenção também há funções distintas. Deus Pai planejou a redenção e enviou seu filho ao mundo (Jo 3.16; Gl 4.4; Ef 1.9-10). O filho obedeceu ao Pai e realizou a redenção para nós (Jo 6.38; Hb 10.5-7). Deus Pai não veio morrer pelos nossos pecados, nem o Espírito Santo de Deus. Isso foi obra específica do filho. Então, tendo Jesus ascendido de volta aos céus, o Espírito Santo foi enviado pelo Pai e pelo filho para realizar em nós a redenção. Jesus fala do “Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome” (14.26), mas também diz que ele mesmo enviará o Espírito Santo, pois afirma –“Se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei” (Jo16.7)- e fala de um tempo quando virá “o consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade” (Jo15.26). É papel especialmente do Espírito Santo dar-nos regeneração ou nova vida espiritual (Jo 3.5-8), santificar-nos (Rm 8.13) e fortalecer-nos para o serviço (At 1.8; I Co 12.7-11). Em geral, a obra do Espírito Santo é aparentemente levar à cabo a obra planejada por Deus Pai e iniciada por Deus Filho.

Assim podemos dizer que o papel do Pai na criação e na redenção foi planejar, dirigir e enviar o Filho e o Espírito Santo. Isso não é de admirar, pois mostra que o Pai e o Filho se relacionam um com o outro como pai e filho numa família humana: o pai dirige e tem autoridade sobre o filho, e o filho obedece e é submisso à ordem do pai. O Espírito Santo é obediente às ordens tanto do Pai quanto do Filho.

Portanto, embora as pessoas da Trindade sejam iguais em todos os seus atributos, assim mesmo diferem nas suas relações com a criação. O Filho e o Espírito Santo são iguais em divindade a Deus Pai, mas são a ele subordinados em suas funções.

Portanto, as diferentes funções que vemos o Pai, o Filho e o Espírito desempenharem são simplesmente ações exteriores de uma relação eterna entre as três pessoas, relação essa que sempre existiu e existirá por toda a eternidade. Deus sempre existiu como três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo.

Por fim, podemos dizer que não existem diferenças em divindade, atributos ou natureza entre as três pessoas da Trindade, cada um é plenamente Deus e tem todos os atributos de Deus. As únicas distinções estão nas formas como se relacionam uns com os outros e com o restante da criação. Nessas relações eles desempenham papeis apropriados à cada pessoa.

Essa verdade sobre a Trindade já foi resumida na frase: “igualdade ontológica, mas subordinação econômica”, em que a palavra ontológica significa “ser”. Outro modo de explicar de maneira mais simples seria dizer “iguais no ser, essência e natureza, mas subordinados nos seus papeis e funções ”. Mas se não há subordinação econômica, então não existe diferença inerente no modo como as três pessoas se relacionam e consequentemente não temos as três pessoas distintas que existem como Pai, Filho e Espírito. Por exemplo, se o Filho não está eternamente subordinado ao Pai no seu papel, então o Pai não é eternamente Pai nem o Filho eternamente Filho. É por isso que a idéia de igualdade eterna do ser, mas subordinação nos papéis é essencial à doutrina da Trindade desde que foi formulada no Credo de Nicéia, que dizia que o Filho “foi gerado do Pai antes de todas as eras” e que o Espírito Santo “procede do Pai e do Filho”.

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